- Tayná Adriane da Silva, 14, encontrada morta; Promotoria vai apurar tortura contra quatro pessoas presas
"Eles narraram toda a história, disseram que foram torturados desde o momento em que foram convidados a ir à delegacia de Colombo, e depois em outras três", relatou, ao UOL, Isabel Kugler Mendes, integrante da Coordenação Internacional de Direitos Humanos da OAB e representante da OAB-PR no Conselho Estadual de Direitos Humanos.
Isabel, outra representante da OAB e o advogado dos suspeitos, Roberto Rolim de Moura Júnior, visitaram três dos suspeitos nesta quarta-feira à tarde, na Casa de Custódia de Araucária (região metropolitana de Curitiba).
"Um dos suspeitos não estava lá porque foi mandado ao Complexo Médico Penal, pois estaria evacuando sangue [com suspeita de perfuração intestinal]", disse Isabel. "Em outro, com quem conversamos, chega-se a ver, nas mãos, os ossos, por conta das feridas. E ele está surdo, possivelmente com o tímpano rompido", disse.
"É lamentável que ainda assistamos coisas como essas. São acusações [de tortura] muito graves. A comissão tomou os depoimentos deles, que serão encaminhados às autoridades competentes, e acredito que será emitida uma posição da OAB", afirmou Isabel.
"Todos são inocentes. Confessaram o crime mediante tortura, o que torna [a confissão] nula. Ela não tem valor legal", disse Moura Júnior ao UOL. "[Ajudar a encontrar o corpo] Foi um subterfúgio para parar de apanhar."
Delegados são afastados do caso de menina morta
O advogado, que disse estar trabalhando no caso gratuitamente, irá pedir o relaxamento da prisão dos suspeitos.
O UOL apurou que a OAB teve dificuldades para conversar com os presos. Inicialmente impedido de entrar na Casa de Custódia, o grupo só teve acesso aos suspeitos da morte de Tayná após interferência do presidente da OAB-PR, Juliano Breda, que telefonou à secretária estadual da Justiça, Maria Tereza Uille Gomes.
Em nota, a Secretaria Estadual da Segurança Pública informou que, "por
determinação do secretário Cid Vasques, a corregedoria-geral da Polícia
Civil imediatamente designou um delegado para apurar possíveis
violências que tenham sido cometidas por policiais contra os quatro
homens apontados como suspeitos de envolvimento na morte da menina Tayná
Adriane da Silva, 14 anos".
"Desta forma, será aberto um procedimento administrativo dentro da
Corregedoria que, a princípio, tem duração de 30 dias, podendo ter o
prazo prorrogado. Caso haja comprovação de irregularidades durante a
apuração do caso, os policiais podem responder administrativa e
criminalmente, inclusive com a perda do cargo. O delegado Guilherme
Rangel foi designado para assumir as investigações do caso Tayná. O caso
também será acompanhado pelo assessor civil da Sesp, Rafael Vianna",
informou a nota.
Também em nota, o MPE (Ministério Público Estadual) informou que
"denúncias veiculadas sobre ocorrência de tortura dos suspeitos serão
investigadas em procedimento independente" ao inquérito sobre a morte de
Tayná.
O caso
Sérgio Amorim da Silva Filho, 22, Paulo Henrique Camargo Cunha, 25, Adriano Batista, 23, e Ezequiel Batista, 22, foram presos poucos dias após o desaparecimento de Tayná. Foram apresentados à imprensa após terem confessado o crime, segundo a polícia – apenas Ezequiel negou a autoria, mas teria admitido ter testemunhado o estupro e o assassinato da garota.Segundo o advogado, Adriano está internado com peritonite e perfuração intestinal, decorrente de empalamento em sessão de tortura. Sérgio Amorim tem suspeita diagnóstica de osteomielite no pulso, também decorrente de tortura.
Nesta terça (9), porém, a Secretaria da Segurança Pública informou que o sêmen encontrado nas roupas íntimas de Tayná não é de nenhum dos quatro suspeitos presos.
Na semana passada, uma perita da Polícia Civil dissera que não havia sinais de estupro, pela maneira como a garota estava vestida. Na terça, ao chegar para uma reunião sobre o caso, Jussara Joeckel reafirmou que "não há marcas de estupro ou abuso, nem fissuras" nos órgãos genitais da garota.
Apesar disso, o delegado-chefe da Divisão Metropolitana da Polícia Civil, Agenor Salgado, disse que os suspeitos permanecerão presos. "É lógico [que não serão soltos]", falou, apesar de admitir que pode ter havido erro nas investigações.
"Qualquer pessoa é passível de erro. Mas os delegados [Fabio Amaro, responsável pela investigação, e Silvan Pereira, que prendeu os suspeitos e afirmou que eles confessaram o crime] estão convictos do trabalho que fizeram", disse.
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