Procurado21/09/2013
Foragido, ex-deputado abriu mão da vida que levava logo depois que as denúncias contra ele ganharam repercussão
Duduco era reconhecido pela filantropia e circulava com facilidade entre a elite
Foi explicado que Nilson Nelson Machado, o Duduco, tinha uma creche, fazia trabalho social em Florianópolis e mesmo sem ter as certidões de nascimento, era sim o pai adotivo dos meninos e meninas e estaria na cidade para que as crianças fizessem consultas médicas no Hospital Sara Kubitschek.
A mesma polícia que salvou o então deputado estadual enviou certificado à Justiça nesta semana comunicando que ele está foragido, fazendo com que ele agora seja procurado em todos os Estados do país.
A situação de Duduco diante da lei piorou em 1o de maio, quando a imprensa começou a veicular uma série de denúncias que o acusavam de estupro de vulnerável e maus-tratos, levando a Justiça a decretar, há pouco mais de uma semana, a prisão preventiva do suspeito. As vítimas seriam meninos que ele adotava.
Por medo de represálias, na semana seguinte o ex-deputado estadual saiu da casa onde morava no Morro do Tico, em Florianópolis. O local é bastante significativo para a história de Duduco, porque foi ali onde ele começou há 32 anos um trabalho social que o levou à fama. Abandonou o imóvel, que fica entre a creche e o instituto para idosos batizados com o apelido dele, para viver com a irmã no Bairro Monte Verde, também na Capital.
As visitas ao morro se tornaram raras, afirma Nilton Felisbino, 44 anos, que ficou com a presidência da creche, hoje com 30 crianças matriculadas. Desde a primeira semana de maio, Duduco apareceu lá apenas cinco vezes. Chegava durante a tarde e ficava por ali até o começo da noite. Conversava somente com duas pessoas. E o rumo da prosa era bem diferente com cada interlocutor.
Companheiro de trabalho e cozinheira como confidentes
Com Felisbino falava sobre a investigação da Polícia Civil, que posteriormente virou processo penal. O atual presidente do Lar do Tio Duduco lembra da fisionomia abatida do amigo de longa data – 25 anos.
Era possível perceber que estava sentimentalmente afetado. A outra pessoa com quem Duduco falava era a cozinheira da creche, Tatiane Regina de Andrade, 31 anos. As conversas se davam na cozinha, enquanto tomavam café. Os assuntos ficavam em torno de amenidades e família.
O último ato conhecido do ex-deputado estadual ocorreu na sexta-feira da semana passada, quando a Justiça determinou a prisão preventiva dele pelos crimes investigados, além de coação de testemunha.
Como a Polícia Civil soube da ordem de detenção somente na segunda-feira, foi ao endereço da irmã do agora suspeito reconhecido apenas no final daquele dia. O procurado havia recebido uma ligação telefônica informando a decisão judicial e, desde então, não era mais visto. No processo do caso, consta a declaração da irmã de que ele só se apresentaria se conseguisse um habeas corpus.
A ação também mostra que o ex-político entregou o passaporte à polícia logo após as denúncias terem ganhado repercussão nacional, mas pediu o documento de volta três dias depois. Por isso, é procurado também em aeroportos do país.
::Quem é o Duduco
:::A trajetória de Duduco está ligada ao assistencialismo, carnaval e política. Ex-funcionário do Hospital Celso Ramos, começou como dirigente de uma creche na Rua José Boiteux e foi reconhecido pela adoção de crianças e adolescentes, inclusive portadores de doenças graves. Circulava na elite catarinense e ganhou notoriedade também com os desfiles de fantasias em clubes e escolas de samba. Por várias vezes se apresentou no Hotel Glória, no RJ, onde fez amigos e chegou a ter um apartamento em Copacabana, local em que hospedava políticos, empresários e sambistas da Ilha. Elegeu-se vereador e depois deputado estadual.
::Contraponto
:::O advogado de Duduco, Hélio Brasil, afirmou que só trata do caso diretamente no
processo e por este motivo não atendeu aos pedidos de entrevistas do DC. A irmã do
ex-deputado estadual, procurada pela reportagem, reclamou do tratamento que a imprensa tem dado ao irmão e se recusou a falar sobre o assunto.
Bem visto no morro
Duduco não é hostilizado no Morro da Caixa. Os moradores falam que existe verdade nas denúncias, mas consideram que há muito exagero.
A acusação de maus-tratos e de que ele não dava comida para as crianças e adolescentes é sempre citada com o contra-argumento de que ele distribuía cestas básicas para a comunidade e seria impensável ele deixar faltar alimento dentro da própria casa.
Jorge Zaldivar, 53 anos, conta que o ex-deputado estadual foi tratado com respeito e cumprimentado por todos nas poucas vezes que esteve no morro desde as denúncias de maio. Ele faz coro a outros moradores, que classificam o comportamento dos acusadores como pessoas que “cospem no prato que comeram”.
Os filhos de Duduco já maiores de idade moram em uma casa perto da creche e também reclamam dos denunciantes pelos mesmo motivo.
Com longa atuação no mundo do samba, tendo sido padrinho de bateria de duas escolas de Florianópolis, as acusações contra o ex-deputado estadual são encaradas da mesma forma nas agremiações.
Para pessoas do meio carnavalesco, as denúncias só ocorreram porque as derrotas nas últimas eleições, após ter ocupado cargo de vereador e na Assembleia Legislativa, fizeram o padrão de vida de Duduco diminuir e aí teriam aparecido divergências.
Entenda o caso
::4 de fevereiro
:::A Polícia Civil concluiu a
investigação sem indiciar Duduco
::22 de abril
:::O inquérito policial é encaminhado para o Ministério Público analisar
::1º de maio
:::Surgem as primeiras
reportagens com
denúncias de abuso
sexual e maus-tratos
::3 de maio
:::A Justiça determina que as sete crianças que moravam com o suspeito sejam removidas do local
::6 de maio
:::O Ministério Público devolve o inquérito para a Polícia Civil
e pede
aprofundamento nas investigações
::2 de setembro
:::Ministério Público denúncia o ex-deputado estadual por estupro de vulnerável e maus-tratos
::13 de setembro
:::Justiça decreta a prisão preventiva de Duduco, que desde então está foragido
http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/policia/noticia/2013/09/conhecidos-relatam-ultimos-passos-dados-por-duduco-antes-da-fug
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