09 setembro 2013
Aldeia onde ainda se fala a língua de Jesus é invadida por extremistas muçulmanos
O papa Francisco pediu que todos os católicos romanos do mundo fizessem
neste 7 de setembro um dia de oração e jejum pela paz na Síria. De
maneira surpreendente, pediu que as pessoas de todas as religiões se juntassem à iniciativa. Deixou o convite aberto à todas as “pessoas de boa vontade”, mesmo aquelas que não têm religião.
Enquanto isso, os moradores de Maaloula, uma pequena aldeia cristã no
norte de Damasco, são forçados a abandonar sua cidade. A antiga cidade
fica a 50 km da capital é, possivelmente, o maior símbolo do
cristianismo na Síria, no local ainda se fala aramaico, a língua de
Jesus.
Nos últimos dias, 80% dos 3.000 moradores do vilarejo abandonaram suas
casas e fugiram para Damasco. Desde a quarta-feira (4), grupos armados
de rebeldes, muitos deles ligados aos extremistas da Al-Qaeda tomaram o
local, que é considerado um dos mais antigos centros do cristianismo no
mundo.
Dentro de poucas horas, a cruz que ficava na cúpula do milenar mosteiro
ortodoxo foi derrubada. Igrejas foram saqueadas e queimadas, todos os
cristãos foram avisados que se não se converterem ao islamismo serão
mortos. Algumas dezenas já foram executados. Não é o primeiro relato de
assassinato de cristãos em meio a essa guerra, mas talvez seja o mais
simbólico.
O Patriarca Gregório III, da igreja Ortodoxa, lançou um apelo “à
comunidade internacional, à consciência do mundo inteiro, para salvarem o
pequeno vilarejo… que é um símbolo cristão muito importante da
história”. Ele conta que há dois anos e meio os cristãos estão no meio
dessa guerra politica-religiosa entre dois grupos muçulmanos, os
alauitas, que apoia o ditador Bashar al-Assad e a maioria sunita, que
tenta derrubá-lo.
Diante do cenário de guerra civil, a mídia internacional tem dado pouca
atenção aos massacres de cristãos, similar ao que acontece no Egito,
onde centenas de cristãos foram mortos e dezenas de igrejas, destruídas.
A conquista confirmada hoje da aldeia de Maaloula envia duas fortes
mensagens ao mundo: os rebeldes estão mais próximos que nunca de tomarem
a capital e os rebeldes extremistas muçulmanos tentarão eliminar os
cristãos da Síria.
O avanço dos rebeldes na área foi liderado por Jabhat al-Nusra, ligado a
grupos jihadistas islâmicos dentro das fileiras rebeldes. Segundo Rami
Abdul-Rahman, que dirige o Observatório Sírio para os Direitos Humanos,
com sede no Reino Unido, a liderança da Frente de Libertação Qalamon se
mudou para a aldeia, e que cerca de 1.500 rebeldes estão em Maaloula.
Segundo o jornal inglês Daily Mail, os moradores do vilarejo foram
surpreendidos pela entrada de centenas de rebeldes que gritavam “Alá é
grande”, enquanto atacavam casas de cristãos e igrejas durante a noite,
executando pessoas no meio da rua. Ele diz que os soldados falavam árabe
com diferentes sotaques, o que indica que são extremistas tunisianos,
libaneses, marroquinos e chechenos, o que comprovaria sua ligação com o
grupo terrorista da Al-Qaeda. Outro cristão relatou que esses soldados
rebeldes agarraram moradores e os levaram a locais públicos gritando “Ou
você se converte ao islamismo ou será decapitado”.
Tropas do exército leais a Assad interditaram a estrada que liga a
aldeia a capital. A agência de notícias estatal da Síria, SANA, disse
que “As operações militares continuam na vizinhança de Maaloula e suas
entradas” e que lutavam para reconquistá-la. Um dos grandes impasses dos
EUA para um ataque à Síria é justamente o fato de soldados americanos
terem de lutar ao lado do exército rebelde ligado à Al-Qaeda.
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