Ivonaldo Alexandre/Agência de Notícias Gazeta do Povo / Mais de 30 mil incidentes envolvendo a aranha-marrom foram registrados nos últimos sete anos no Paraná Mais de 30 mil incidentes envolvendo a aranha-marrom foram registrados nos últimos sete anos no Paraná
25/12/2013
Ciência

UFPR desenvolve veneno natural contra aranha-marrom


Estudo desenvolvido pelo Departamento de Química usa compostos naturais para eliminar o aracnídeo. Para a Secretaria da Saúde, a melhor alternativa ainda é mudar o ambiente para evitar que a aranha se aproxime

Nos últimos sete anos, o Paraná registrou 34.220 incidentes com aranha-marrom, o que o torna o estado brasileiro onde há maior número de casos envolvendo o aracnídeo. Por mais que, ano após ano, as secretarias da saúde estadual e dos municípios alertem para os riscos que a picada da aranha oferece, até o dia 28 de outubro, foram 2.850 registros de picadas em terras paranaenses. Uma pesquisa que está sendo desenvolvida na Universidade Federal do Paraná (UFPR), no entanto, busca encontrar uma forma de reduzir esses números.
O estudo do departamento de química começou a apontar, no fim do ano passado, para a possibilidade de matar a aranha-marrom utilizando compostos naturais extraídos de plantas. “Em testes preliminares, também matou o escorpião amarelo com uma mistura com baixos níveis tóxicos ao ser humano”, conta o coordenador do projeto, o professor Francisco de Assis Marques.

Aranhas-marrom chegaram ao Paraná há mais de 20 anos
Não há como precisar quando e como a aranha-marrom chegou ao Paraná, mas pesquisas indicam que sua multiplicação começou na década de 1990. No estado, ela encontrou um ambiente sem predadores naturais, como a lagartixa, e com condições favoráveis, os chamados “quatro As”: acesso, abrigo, alimento e água.
Assim que esquenta, a aranha-marrom ressurge. “Ela fica praticamente imóvel quando a temperatura está baixa por sentir que não tem alimento. Com o calor, há mais insetos, e lá vai a aranha”, explica o professor Oldemir Carlos Mangili, que estuda os aracnídeos – que não são insetos, como muita gente pensm – há mais de 10 anos.
As aranhas montam suas tocas em ambientes quentes e secos, como nos forros das casas e pilhas de jornal e, ao saírem dali em busca de alimento, encontram os seres humanos. “Ela não ataca ninguém gratuitamente, apenas para a defesa”, garante Mangili. Mesmo quando a pessoa não percebe, como quando coloca a mão no bolso ou quando está dormindo, está oferecendo risco ao animal, que naturalmente se defende.
A picada é indolor e, com o tempo, provoca dor em queimação, vermelhidão, inchaço e coceira. Se não for tratada, pode provocar necrose, mal-estar e dores pelo corpo.
Dicas
A aranha-marrom monta tocas nas frestas e cobri-las ou limpá-las é muito importante. O aspirador de pó é uma arma eficaz.
Atenção a gavetas, armários, bolsos e calçados. Como a aranha gosta de lugares secos e escuros, pode ser que ela tenha se escondido por ali.
Não deixe a cama próxima à parede e evite que lençóis e cobertas toquem no chão. Dessa maneira, é mais fácil para a aranha se aproximar dos seres humanos.
Caso tenha qualquer dúvida, entre em contato com o Centro de Controle e Envenenamento pelo 0800-41-0148.

O trabalho ainda não está concluído e, neste ano, novos resultados devem ser obtidos, como a dose letal do componente que mata a aranha e a maneira com que ele deve ser aplicado. “O estudo tem que ser aprofundado agora. Com o calor que começa nesta época do ano, vamos coletar mais aranhas para fazer isso”, adianta Marques.
Ele destaca que as substâncias da mistura - guardadas a sete chaves pelos pesquisadores - são usadas até para dar cheiro a alguns alimentos. “A grande surpresa da pesquisa foi descobrir que justamente componentes baratos e simples foram eficazes”, ressalta Marques, que já testou o produto na própria casa e, segundo ele, acabou com os aracnídeos.
A saída
Apesar de não conhecer a pesquisa que vem sendo desenvolvida pela UFPR, o biólogo Emanuel Marques da Silva, da Divisão de Vigilância de Zoonoses e Intoxicações da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), faz ressalvas em relação à ideia de usar um produto para solucionar o problema.
“Essa é uma medida paliativa que oferece uma falsa alternativa para o controle da situação. Se você passar veneno em um ponto específico, a aranha vai apenas se deslocar para outro lugar”, argumenta. Emanuel explica ainda que, para ser usado pela população em geral, um produto precisa passar por muitos testes. “Além disso, só se recorre a substâncias químicas em situações extremas”, ressalta.
O biólogo comenta que matar uma aranha é fácil, o que é feito “até por água quente”. A grande dificuldade, no entanto, não é matá-la, mas evitar que ela esteja próxima. A saída, então, é a mesma para qualquer tipo de animal: o remanejo ambiental. “Se você encontra a aranha-marrom, baratas, ratos e mosquitos da dengue, você pode e precisa mudar o ambiente em que o encontrou para que ele não more mais ali”, explica.

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