14/02/2014
Uma planilha com
prestação de contas, divulgada nas redes sociais, identifica dois vereadores,
um delegado da Polícia Civil e um juiz do Tribunal de Justiça como doadores
para um ato organizado por manifestantes que participam dos protestos de rua no
Rio.
Ontem, o advogado
Jonas Tadeu Nunes, que representa os dois suspeitos de lançar o rojão que matou
um cinegrafista na semana passada, afirmou que manifestantes são aliciados para
promover tumultos. Ele não citou nomes na ocasião, mas apontou que o esquema
tem o envolvimento de políticos.
A ativista Elisa
Quadros, conhecida como Sininho, disse à Folha ter ajudado a elaborar a tal planilha,
relacionada a valores arrecadados para uma festa promovida na praça da
Cinelândia no dia 23 de dezembro 2013, batizada de "Celebração da Rua -
Mais Amor, Menos Capital".
O evento tinha como
propósito, segundo os organizadores, arrecadar doações (agasalhos, alimentos e
brinquedos) para moradores de rua e vítimas de enchentes.
Na ocasião, de
acordo com o documento, o delegado Orlando Zaccone doou R$ 200. Os vereadores
Renato Cinco e Jefferson Moura, ambos do PSOL, contribuíram com R$ 300 e R$
400, respectivamente.
Zaccone disse que
fez a doação após ser procurado por Elisa Quadros.
"Ela me ligou
e pediu dinheiro para esse ato beneficente, em 23 de dezembro. Não só doei como
participei deste ato, voltado para mendigos, e organizado pelo pessoal do Ocupa
Câmara", afirmou Zaccone à Folha.
Outro colaborador
citado seria o juiz João Damasceno, que teria repassado R$ 100. O magistrado
diz que "não contribuí financeiramente para qualquer manifestação ou
entidade da sociedade civil que as convoque".
O juiz Damasceno
participou de um vídeo, que tinha a participação de vários artistas, em apoio
aos protestos. Nele, fazia críticas à "criminalização dos
manifestantes", que considerava uma "violência do Estado".
Em nota, o vereador
Jefferson Moura informou que a doação foi realizada por assessores de seu
gabinete. "Não foi uma doação direta do parlamentar. Foi realizada uma
vaquinha no gabinete para o evento, que totalizou R$ 400".
Renato Cinco
confirmou ter dado R$ 300 para a "compra de alimentos".
Elisa Quadros disse
à Folha ter todas as notas fiscais comprovando
que o dinheiro foi gasto com os alimentos usados na ceia de Natal servida na
praça da Cinelândia, local ocupado durante semanas por manifestantes, que
acamparam no local.
Ao divulgar a
prestação de contas pelo Facebook, Elisa acabou criticada por outros
manifestantes descontentes com a colaboração de políticos.
Em uma mensagem
publicada em 19 de janeiro, a ativista reagiu: "Uma palhaçada, uma
inquisição virtual (...). Eles (os vereadores) deram dinheiro sim e não foi
nenhum segredo. Fizemos reuniões onde isso foi discutido e questionado."
CORINGA
O estudante de
Direito Cleyton Carlos Silbernagel, 24, que se fantasia do personagem Coringa
nas manifestações, postou hoje no Youtube um vídeo, em que mostra partes da
planilha.
Segundo o
estudante, "tinha Black Bloc organizando a ceia, pois o evento foi
organizado pelo Ocupa Câmara, e todos sabiam que ali tinha Black Bloc. O mesmo
que ajudar em uma festa promovida por eles, é ajudar o movimento".
Ele diz que é amigo
de Caio Souza Silva, suspeito de ter acendido o rojão que matou o cinegrafista
Santiago Andrade -que seria um dos administradores, usando o nome Dik ou
Dikvigari Vignole. Caio usaria a expressão Censura Negada no whatsapp para se
identificar.
"Eu era Black
Bloc e o encontrei nos protestos e dei esse apelido. Ele fundou uma página no
Facebook com esse codinome", disse.
A página faz
apologia à tática Black Bloc e, de acordo com Coringa, seria um grupo contrário
aos militantes ligadas à ativista Sininho.
"Ela é líder
dos ativistas e determina quem pode ou não ficar nos locais. Me expulsou da
Aldeia Maracanã. Criei o Coringa em oposição ao Batman, pois o Batman é
financiado pelo PSOL e ironiza as milícias, que o deputado Marcelo Freixo
combateu", disse. Um dos grupos de milicianos era conhecido como
"Liga da Justiça", e tinha como símbolo justamente esse superherói.
O deputado estadual
Marcelo Freixo nega as acusações e declarou: "Já tenho muito problema com
o mundo real, não quero ter com Gothan City. Mas ele vai ter que se explicar
não com o comissário Gordon, e sim com a Justiça, pois vou processá-lo".
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