Na política e na religião, os discursos de ódio
Por questões de técnica e a longa história da profissão, a mídia fatia e expõe os fatos em páginas, narrações ou imagens diferentes.
Notícias são separadas como se os fatos todos fossem sempre desconectados entre si. E a realidade, a vida não é assim.
No sábado a juíza Carine Labres casou Solange e Sabriny no fórum de Santana do Livramento (RS).
O Centro de Tradições Gaúchas local foi incendiado para evitar o casamento que lá seria realizado.
Isso no país em que foram assassinados mais de mil homossexuais em 3 anos.
Cada vez mais tem gente que ganha a vida, e ganha muito, pregando a
"cura gay" e com ameaças do "fogo do inferno" e "vingança divina".
E tem quem não enxergue a relação entre a pregação de ódio e esse surto de ira incendiaria no sul do Brasil.
Tem quem não perceba o que resulta do discurso de ódio; o homofóbico mas não apenas.
Como tem quem faça de conta ser obra do acaso os ataques recentes a
casas e cultos religiosos de origem africana. No Rio e Salvador, por
exemplo.
O ódio como condutor de discurso político, religioso, não é algo
banal. Não é apenas parte do jogo. Não num país onde 50 mil pessoas, em
média, são assassinadas a cada ano.
País onde o ódio jorra nos programas policiais de TV e rádio, nas arquibancadas, no trânsito, nas escolas, nas redes sociais…
Ódios vão se cristalizando e se reproduzindo nas linguagens. Assim, odeie-se ainda mais ao PT, ao Lula e à Dilma.
Em contrapartida, ódio ao PSDB, ao Aécio, à Marina e ao marinês.
Ódio eterno ao Bolsa-Família, às cotas, ao Evo Morales, aos médicos
cubanos, ao tigre e ao pai do menino. Ódio aos nordestinos, ódio aos
pobres e também aos ricos.
Ódio aos coxinhas que odeiam ciclovias. Rubrofóbicos, os coxinhas odeiam, como odeiam! aquele asfalto pintado de vermelho.
Ódio a quem notar e repelir tanto ódio.
E, claro: o meu ódio é valido, o seu, não. Assim como vice-versa.
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