13/11/2014 

Para jornalista, flagras de nudez em Porto Alegre abrem debate sobre tabu.
Já psiquiatra alerta que alguns casos podem estar associados a transtorno.

 
Montagem mulheres correm nuas por Porto Alegre (Foto: Montagem sobre fotos/G1)Porto Alegre já registrou quatro flagrantes em menos duas semanas 
Os recentes flagrantes de mulheres e homens caminhando ou correndo completamente pelados pelas ruas de Porto Alegre deram visibilidade para movimentos que defendem o nudismo como forma de protesto ou como expressão de liberdade, ao mesmo tempo em que levantaram discussões sobre os motivos que levam pessoas a tirar a roupa em público.
Foram quatro casos na capital gaúcha nos últimos 12 dias, dois deles no domingo (9). Uma mulher foi fotografada correndo apenas de tênis e boné por ruas do Centro da capital horas antes de uma “corrida pelada” convocada pelas redes sociais, que havia recebido mais de 3 mil confirmações, terminar com a caminhada nua de um homem por alguns metros da Terceira Perimetral.
O tabu está ligado a questões de gênero, padrões estéticos, moralismo religioso e repressão."
Pepe Martini, jornalista e ativista
No dia 30 de outubro, o primeiro caso foi registrado no Parque Moinhos de Vento, o Parcão, quando uma mulher praticou corrida nua até ser detida pela Brigada Militar. Uma semana depois, a lutadora de MMA que se identificou como Betina Baino repetiu a cena ao percorrer pelada um longo trecho da Terceira Perimetral em meio à chuva e aos carros.
Idealizador do “Movimento Peladista”, uma página criada no Facebook em 2013 para questionar padrões morais que condena a prática do nudismo em locais públicos e urbanos e que já promoveu atos como a "Pedalada Pelada", o jornalista Pepe Martini diz que os recentes casos de “peladões” representam um novo elemento para fomentar o debate diante do tema.
“A nossa ideia não é apenas defender nudistas. Além de estar nu, é importante propor a naturalização do corpo, da nudez. E faz mais sentido que isso aconteça no meio da sociedade. Há inclusive comunidades nudistas bem conservadoras. Tem que acontecer nos espaços urbanos também”, defende o ativista.
homem pelado na capital (Foto: Imagens cedidas/ Anderson Vanzan)Corrida pelada terminou com caminhada solitária de um homem 
Ao acompanhar a onda de pedestres nus, o jornalista decidiu: irá comparecer a um ato marcado pelas redes sociais para celebrar a nudez pública, agendado para a manha de domingo (16), no Parque Farroupilha. Até a noite de terça-feira (11), mais de 12 mil pessoas haviam confirmado presença no evento pela internet.     
“Há uma repulsa, uma perseguição absurda que exista ainda hoje em dia em relação a esse tema. Mas dá para entender, porque está ligado a questões de gênero, padrões estéticos, moralismo religioso e repressão. Tudo isso ainda ‘cola’ em pleno século XXI”, diz Pepe, que tem 25 anos.
Ato pode revelar transtorno, diz psiquiatra
Nos dois primeiros casos de nudez pública registrados recentemente em Porto Alegre, as envolvidas foram levadas para atendimento médico em postos de saúde. A corredora do Parcão não teve a identidade revelada, mas segundo a família disse à Secretaria Municipal de Saúde, ela faz tratamento psicológico.

Em um rápido diálogo com um repórter da RBS TV, a lutadora de MMA Betina Baino explicou enquanto caminhava nua entre os veículos na Terceira Pertimetral que o ato era um “desabafo” contra a falta de incentivo. Abordada pela polícia, ela também ficou um período internada em um posto de saúde.
A professora de psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Marcia Kauer Sant’Anna alerta que a atitude, quando não relacionada a uma reivindicação para questionar valores morais ou chamar a atenção, também pode ser um sintoma de transtorno bipolar.
“Há a manifestação consciente, que tem determinado objetivo, e há aquela associada à área da psiquiatria. Devido aos riscos que podem estar associados, existe até a necessidade de internação. O transtorno bipolar costumar gerar esses sinais de euforia, que tornam a pessoa mais extrovertida. É importante a família tentar perceber e buscar ajuda’, diz a especialista.
Conforme o artigo 233 do Código Penal, ficar pelado em lugares públicos pode ser considerado crime, com punição de três meses a um ano de detenção ou multa, mas dificilmente alguém vai preso pelo ato, segundo advogados.
Por enquanto, a “febre” dos pelados em Porto Alegre tem como resultado apenas o destaque sobre o tema na imprensa, muitas piadas em redes sociais e a criação de um game desenvolvido por uma empresa gaúcha de softwares, disponível desde sábado (8) na loja virtual para smartphones com o sistema Android.

http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2014/11/e-preciso-naturalizar-o-corpo-diz-ativista-de-movimento-nudista-no-rs.html

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