Coluna do Enio Verri:
16 DEZ 2014
Na última semana, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) entregou a presidente, Dilma Rousseff, o relatório final com 4.328 páginas que apontam os responsáveis diretos ou indiretos pelas torturas e assassinatos durante a ditadura militar entre 1964 e 1985.
Fruto de um trabalho árduo de dois anos e sete meses de depoimentos, audiências públicas e análises minuciosas de documentos sobre a ditadura militar, a comissão tenta corrigir e punir os responsáveis por um dos períodos mais dolorosos da história brasileira.
Trata-se de fazer justiça não só aos 434 mortos ou desaparecidos oficializados pela Comissão, mas também a tantos outros que foram assassinados, torturados, abusados sexualmente, perseguidos, exilados, entre outros crimes cometidos a brasileiros que lutavam por direitos e democracia. Um período que traz resquícios aos dias atuais.
Até então camuflada, os anseios de um regime ditatorial, marcado pelas manchas de sangue, voltam a serem defendidas através das telas de computadores, passeatas, artigos com teor fascistas, e que tem como porta-voz o deputado Jair Bolsonaro (PP). Além de ser um representante da ditadura militar, o deputado ainda é reconhecido pelo seu posicionamento machista e homofóbico.
Ao proferir a frase “não te estupro porque você não merece” à deputada Maria do Rosário (PT) no plenário do Congresso Nacional na mesma semana da entrega do relatório da Comissão da Verdade, Bolsonaro não só ofende a nobre deputada, mas também causa indignação a todos os brasileiros que defendem uma sociedade mais justa e igualitária.
As ofensas do deputado mais votado nas eleições para a Câmara Federal, no Rio de Janeiro, nada mais é do que a reprodução de um discurso machista e de ódio refletido no dia a dia e aceito por uma parcela da sociedade. Segundo pesquisa do IPEA, 58% dos entrevistados afirmaram que comportamento das mulheres influencia estupros.
É a triste realidade de um País marcado pelas injustiças sociais e de classes, onde mulheres, negros, homossexuais, entre outras minorias convivem com o medo e os preconceitos de uma sociedade que relativiza os crimes contra os excluídos e, se esconde muitas vezes sobre figuras polêmicas e períodos ditatoriais.
É o resultado de uma história de exclusão social e de elites dominantes. Um processo de 500 anos que vai se quebrando e revoltando aqueles que historicamente se sentiam privilegiados.
*Enio Verri é deputado estadual, deputado federal eleito, presidente do PT do Paraná e professor licenciado do departamento de Economia da Universidade Estadual do Paraná. Escreve nas terças sobre poder e socialismo.
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