Atendendo a pedidos, aqui está o texto de hoje:
Professor é um perigo - Lu Oliveira
Em qualquer manifestação de docentes, dentre todas as cenas exibidas pelos noticiários de tevê e reproduzidas em fotos em jornais, sites e redes sociais, a que mais me inquieta é aquela em que professores e policiais ocupam o mesmo cenário. Aconteceu recentemente, inclusive. Não foi a primeira vez. E nem será a última. Além disso, nessas horas, a polícia cumpre o papel para o qual é convocada pelas autoridades: garantir a segurança.
Mas, de alguma forma, entristece-me ver os mestres e os homens da lei em times opostos, como se os primeiros fossem criminosos prontos para atacar. Entretanto, fiquei sabendo, por meio de colegas que participam dessas manifestações, que muitos policiais demonstram verbalmente apoio às reivindicações da classe, afinal, quantas crianças e adolescentes, filhos deles, são alunos da escola pública.
E este é o ponto da discussão: policiais e professores são parceiros. Não adversários. Com armas diferentes, mas igualmente importantes e necessárias dependendo da situação, todos colaboram na busca de uma sociedade menos violenta. O maior adversário do povo não veste jaleco. Tampouco veste uma farda. O nosso maior adversário veste terno e gravata.
Mas é conveniente convencer a população, por meio de discursos hipócritas, que o professor é uma figura que reclama de tudo. É conveniente torná-lo o responsável pela confusão. É perfeito para os interesses de quem deseja manter o povo no cabresto que o professor assuma suas aulas, vá para a sala, dê meia dúzia de conteúdos, receba seu salário e fique feliz. E quieto.
Sabem por quê? Porque professor é um perigo.
Tomem muito cuidado com ele. Se virem um por aí, à solta, protejam-se. Fujam enquanto for possível. Melhor: chamem a polícia. Porque o professor, ah, ele é muito perigoso. Tem a ousadia de estimular os alunos a pensar. É capaz de, por meio do conhecimento, abrir portas pelas quais eles podem fugir da prisão da ignorância.
Professor é mesmo um perigo. Abusado como poucos, tem a mania de levar livros para a sala de aula. Tem a audácia de desenvolver o raciocínio lógico na meninada. Mesmo não sendo valorizado como merece, insiste. Persiste. Persevera. Porque crê na força da educação.
Professor é um perigo. Ele pode abrir os olhos dos seus alunos. E talvez eles não gostem do que vejam. Mas, justamente por não gostar, buscarão meios de mudar a paisagem. Professor é um sujeitinho exibido. Faz a diferença na vida daqueles que passam pelas suas mãos. Faz a diferença por onde passa.
Não à toa quem está no poder o teme. Vê nele um incômodo. Professor é mesmo uma pedra no sapato. Uma pedra no sapato de homens e mulheres que teriam mais sossego se as pessoas ficassem satisfeitas apenas em ter pão e televisão. Educação é uma palavra bonita – e fácil de rimar na hora de fazer slogans de campanha –, mas, caso seja de qualidade, pode se tornar instrumento de libertação. Percebem o perigo?
Por isso tudo, e por outros motivos que não caberiam nesta coluna, cuidado. Muito cuidado. Mantenham seus filhos longe dele. A menos que queiram que eles tenham contato com o fascinante universo do conhecimento.
É isso.
Um professor incomoda muita gente. Milhares deles incomodam muito mais.

(Coluna Francamente - Jornal O Diário doNorte do Paraná - 14/02/15)

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