A greve dos caminhoneiros é liderada pelo empresário Nélio Botelho, presidente da Unicam; Nélio é simpatizante de FHC e era aliado em seu governo

Por Redação

A união Nacional dos Caminhoneiros (Unicam) divulgou nota criticando a paralisação geral da categoria iniciada nesta segunda-feira com o objetivo de fechar rodovias em todo o País. A greve é organizada pelo Movimento União Brasil Caminhoneiro, que tem como presidente o empresário Nélio Botelho. "A Unicam defende as manifestações populares espalhadas pelo Brasil e o direito legal de greve, mas não acreditamos em um movimento grevista mobilizado por empresários travestidos de transportadores autônomos, que usam esses profissionais para atingir interesses próprios, se aproveitando de uma oportunidade política no Brasil, com as manifestações populares vistas nas ruas nas últimas semanas", diz o comunicado assinado pelo presidente José Araújo “China” da Silva. 
Na nota, a Unicam deixa claro que não apoia o movimento grevista, previsto para ser encerrado somente na próxima quinta-feira. “A chamada paralisação geral dos transportadores de cargas poderá prejudicar o trabalho que vem sendo realizado por aqueles que desejam realmente melhores condições e dignidade em sua atividade”, afirmou Silva.
De acordo com ele, a entidade luta pela melhoria das condições de vida e de trabalho dos caminhoneiros do Brasil e tem participado de todas as negociações e debates sobre a Lei 12.619/12 - que regulamenta a profissão -, o pagamento eletrônico de fretes, o Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas (RNTRC), entre outros assuntos de interesse do setor.
"A Unicam entende que, neste momento específico, a categoria deve defender o aperfeiçoamento da legislação da categoria, e não sua revogação, como defende o grupo que está incitando a greve, e a melhor forma de mudanças necessárias nas legislações do setor é por meio do debate e da busca por soluções conjuntas, e não através de um movimento grevista liderado por uma categoria empresarial travestida de transportadores autônomos", completa o comunicado. 

Quem é Nélio Botelho? 

Tucano ao volante

Nélio Botelho preocupa o governo ao comandar 1,8 milhão de caminhoneiros, mas não gosta de greves e votou duas vezes em FHC

IstoÉ Gente

Durante a infância, em Araxá (MG), Nélio Botelho fabricava seus próprios caminhões de brinquedo com latas de sardinha. Aos 34 anos, com dinheiro emprestado, comprou um de verdade. Na boléia do Mercedes 1113, o modelo mais barato da montadora, transportou cimento. Hoje, aos 59 anos, é o presidente do Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC), que tem 1,8 milhão de filiados e coloca o governo em polvorosa a cada greve da categoria que ele comanda. “A greve só acontece porque o governo não faz nada por nós. Se pudesse ficava no mato, sou da roça”, diz o sindicalista.
Em 1985, o líder dos caminhoneiros encabeçou a primeira greve nacional da categoria, que culminou com a criação dos primeiros sindicatos. Até então, os caminhoneiros eram vinculados aos sindicatos de taxistas. Botelho assumiu a presidência do primeiro sindicato de caminhoneiros, com base no Rio de Janeiro e no Espírito Santo. Cargo que ocupa até hoje, acumulando com outras duas presidências, a do MUBC e a da Cooperativa Brasileira dos Caminhoneiros. No movimento, ele trabalha de graça. No sindicato, Botelho ganha R$ 800 e, na cooperativa, o salário é de R$ 1,5 mil. Para completar o orçamento, o caminhoneiro tem uma carreta que presta serviço à Petrobrás e é pilotada por um colega.
O pendor para a liderança surgiu em 1982. Encarregado em uma transportadora da Zona Norte do Rio, Botelho saiu tarde do trabalho e viu um caminhão velho estacionado na rua. Ao lado dele, um caminhoneiro preparava o jantar junto com a mulher e um filho. “Eram quase 2 horas. Eles iriam comer, dormir apertados na boléia e acordar às 5 horas”, lembra. “Percebi que a nossa situação era péssima.”
Mas a estréia como líder aconteceria um ano mais tarde, durante a greve do transporte de combustível da refinaria da Petrobrás em Duque de Caxias (RJ). O sindicalista estava na linha de frente. “Vi o Botelho evitar que a polícia nos dispersasse”, conta Hércules Pereira, 44 anos, também fundador do MUBC. “O comandante da PM atendeu a um pedido dele.”
Mesmo depois da greve de 1985, os caminhoneiros continuaram dispersos. Para mudar esse quadro, começou a idealizar o MUBC. Atualmente, o movimento tem 4.236 organizadores espalhados pelo País. “Nossa maior arma é a mala direta”, diz Botelho. “Juntar operário é mole, basta ficar na saída da fábrica. Caminhoneiro é diferente.” Com a ajuda de secretárias, Nélio responde a 500 cartas por mês e 20 e-mails por dia.
Apesar da popularidade, o líder caminhoneiro não pensa em se candidatar a cargo algum na política nacional. Segundo ele, o MUBC quer eleger dois deputados federais em cada Estado, mas é contra a candidatura de caminhoneiros. “Vamos aproveitar os bons políticos, comprometidos com nossas idéias”, diz. “Podemos ter 50 deputados a nosso favor em Brasília, em vez de um só, que é o que aconteceria se eu fosse candidato.” A confiança no poder da classe é tanta que os caminhoneiros dispensam as centrais sindicais. “Não precisamos disso. Já somos fortes sozinhos.”
Mas Botelho também enfrenta problemas internos. O último deles aconteceu na negociação da greve que terminou no dia 6 de maio. Contrário à proposta do governo, ele não compareceu à reunião marcada para o dia 3 de maio, em Brasília. O presidente da Federação Interestadual de Caminhoneiros Autônomos, José Fonseca Lopes, foi ao encontro e assinou o acordo. “A greve não acabou com o acordo, mas com a violência da polícia”, diz Botelho.
Considerado pelo governo o xiita das estradas, Botelho surpreende ao falar de suas posições. Eleitor de Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998, o líder sindical se diz simpático a políticos da situação e da oposição. “Não gosto de partidos. Procuro selecionar o bom político.” O caminhoneiro também não mede as palavras para defender o regime militar. “Sou contra ditaduras, claro, mas naquela época éramos respeitados.” Outra surpresa: Botelho garante que detesta greves e não gosta de aglomerações.
Botelho parou de estudar no primeiro ano ginasial e teve de sair de casa aos 17 anos porque o pai, ferroviário, passava por dificuldades financeiras. Hoje casado com Ângela, 52 anos, ele mora numa casa com três quartos, na Ilha do Governador, Zona Norte carioca. Com eles, residem três filhos: Eliane, 27, Renato, 24, e Flávia, 22. “Mas ele não pára em casa”, diz Ângela. “Ele não almoça em casa, então compensa no jantar”, conta ela, que faz um autêntico prato de caminhoneiro para receber o marido. “Nisso ele não foge à regra.”



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