25/08/2015

Ex-diretor da Petrobras reafirmou pedido de doação a campanha de Dilma.
Doleiro disse na acareação que outro delator esclarecerá quem pediu.

Em acareação na CPI da Petrobras, o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa deram versões contraditórias sobre o suposto pedido do ex-ministro Antonio Palocci para que dinheiro desviado da petroleira fosse repassado para a campanha de 2010 da presidente Dilma Rousseff.
Segundo Youssef, atualmente, um dos delatores da Lava Jato estaria detalhando ao Ministério Público Federal quem pediu o dinheiro para a campanha petista na eleição presidencial de 2010. O doleiro, entretanto, não quis revelar a identidade do delator que estaria contando detalhes do pedido de doação eleitoral. Segundo ele, o nome do delator será conhecido assim que a delação premiada for homologada pela Justiça Federal.
Esse assunto me veio através do Alberto Youssef. Eu autorizei repassarem os R$ 2 milhões da cota do PP para a campanha de 2010. Eu ratifico integralmente os meus depoimentos. Todos eles"
Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras
Paulo Roberto Costa afirmou em um seu acordo de delação premiada que, na eleição de 2010, Palocci o procurou pedindo a liberação de R$ 2 milhões para a campanha presidencial de Dilma.
O dinheiro, segundo o ex-diretor da Petrobras, viria da cota reservada ao PP no esquema de corrupção investigado pela Lava Jato.
Nesta terça, Costa voltou a afirmar que foi o doleiro quem pediu a ele para arrecadar dinheiro para a campanha de Dilma.
"Esse assunto me veio através do Alberto Youssef. Eu autorizei repassarem os R$ 2 milhões da cota do PP para a campanha de 2010. Eu ratifico integralmente os meus depoimentos. Todos eles", ressaltou o ex-diretor da Petrobras.
No entanto, Youssef negou diante do ex-dirigente da estatal e dos deputados que integram a CPI que Palocci tenha pedido a ele qualquer doação para a campanha petista.
Eu não conheço o Palocci, não conheço o assessor, nem o irmão e ninguém [dele] fez pedido a mim para que eu arrebanhasse recurso para a campanha da Dilma de 2010"
Alberto Youssef, doleiro
“Eu vou me reservar ao silêncio com referência a esse assunto porque existe uma investigação do Palocci, e logo vai ser revelado e será esclarecido o assunto. Tem outro réu colaborador que está falando, eu não fiz esse repasse. Assim que essa colaboração for notificada, vocês vão saber realmente quem foi que pediu recurso e quem repassou esse recurso”, disse Youssef aos parlamentares.
“Com respeito ao Palocci, confirmo as minhas declarações feitas anteriormente. Eu não conheço o Palocci, não conheço o assessor, nem o irmão e ninguém [dele] fez pedido a mim para que eu arrebanhasse recurso para a campanha da Dilma de 2010”, complementou o doleiro.
Ao Ministério Público Federal, Costa afirmou que a solicitação do dinheiro para a campanha de Dilma foi feita por Youssef, que era responsável pela operacionalização financeira do esquema de corrupção. De acordo com o ex-dirigente, o doleiro não esclareceu se o pedido havia sido feito pessoalmente por Palocci ou se havia ocorrido por meio de um assessor.

Lula e Dilma
Na acareação desta terça, Alberto Youssef reiterou que, na opinião dele, o alto escalão do Palácio do Planalto tinha conhecimento do esquema de pagamento de propina na Petrobras.

Ele já havia feito essa afirmação em depoimento que ele concedeu em maio à CPI da Petrobras, em Curitiba.
“Eu confirmo integralmente as minhas declarações, os meus depoimentos”, enfatizou.
Porém, Paulo Roberto Costa rebateu a declaração do doleiro, afirmando que nunca falou sobre o assunto com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou com a presidente Dilma.
“Eu também confirmo: nunca conversei pessoalmente com o presidente Lula e com a presidente Dilma sobre os fatos”, destacou o ex-diretor da Petrobras.

Aécio Neves
Durante a acareação, Youssef foi questionado pelo deputado Jorge Solla (PT-BA) sobre suposto pagamento de propina ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) – 

O dinheiro teria sido repassado ao tucano por intermédio de sua irmã, por meio de uma empresa contratada por Furnas entre 1994 e 2001.
"O senhor confirma que Aécio recebeu dinheiro de corrupção de Furnas?", questionou Solla.
"Eu confirmo por conta do que eu escutava do deputado José Janene, que era meu compadre e eu era operador dele", respondeu Youssef.
Em março, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, arquivou pedido de abertura de inquérito para investigar Aécio, com base nas mesmas informações do doleiro.
À época, Janot entendeu que as afirmações de Youssef em delação premiada eram "muito vagas". Para o PGR, não há "outro elemento" que corrobore as declarações de Youssef a não ser o fato de que ele afirma ter ouvido de José Janene que o senador recebia dinheiro de Furnas.
Em nota divulgada após a sessão da CPI, o PSDB afirma que as referências ao senador Aécio Neves "são improcedentes e carecem de quaisquer elementos que possam minimamente confirmá-las".
"Não se tratam de informações prestadas, mas sim de ilações inverídicas feitas por terceiros já falecidos", diz o texto da nota.
Na sessão desta terça, tanto Youssef quanto Costa reafirmaram um suposto pagamento, em 2009, de cerca de R$ 10 milhões para o ex-deputado e ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, morto em 2014.
O dinheiro, segundo os dois delatores, teria sido pago para que Guerra impedisse a criação de uma CPI para investigar contratos da Petrobras naquele ano. Os dois depoentes já haviam relatado o suposto pagamento em depoimentos de delação premiada.

Gleisi Hoffmann
Youssef e Costa também confirmaram aos deputados que, em 2010, a campanha eleitoral da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) recebeu recursos desviados da estatal.

À Justiça Federal, eles já tinham relatado o repasse de R$ 1 milhão, a pedido do então ministro Paulo Bernardo, marido de Gleisi.
“Houve uma contradição sobre quem fez o pedido, mas o importante é que foi esclarecido em acareação em Curitiba que o valor foi repassado para a campanha da senadora”, disse Costa.
“Quem me fez esse pedido [para repassar dinheiro à campanha] foi o Paulo Roberto Costa e eu fiz o repasse. Então, reitero o meu depoimento anterior”, afirmou Youssef.

Refinaria de Pasadena
Em meio à acareação, Paulo Roberto Costa foi questionado sobre a compra, em 2006, da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA).

A transação da planta de petróleo norte-americana é alvo de investigações do Ministério Público Federal, da Polícia Federal e do Tribunal de Contas da União (TCU) por suspeita de superfaturamento.
No ano passado, Costa afirmou à Polícia Federal que recebeu US$ 1,5 milhão simplemente para não dificultar, em uma reunião da diretoria da Petrobras, a aprovação da compra da refinaria.
A Petrobras pagou US$ 360 milhões à empresa belga Astra Oil para adquirir 50% da refinaria texana. Em 2005, um ano antes da operação comercial, a companhia petrolífera da Bélgica havia adquirido a refinaria por US$ 42 milhões.
Após desentendimentos com a Astra Oil, a Petrobras foi obrigada, em 2008, a pagar US$ 820,5 milhões para comprar a outra metade, totalizando US$ 1,18 bilhão pela compra.
No depoimento desta terça à CPI, Costa voltou a afirmar que a responsabilidade da compra da refinaria foi do Conselho de Administração da estatal, que, na ocasião, era comandado pela presidente Dilma, então ministra da Casa Civil do governo Lula.
O ex-diretor da Petrobras contou em depoimentos anteriores que, na época da compra de Pasadena, circulavam "boatos" na empresa de que o grupo próximo ao ex-diretor da área internacional da petroleira Nestor Cerveró teria dividido algo entre US$ 20 milhões e US$ 30 milhões na transação comercial.

Discussão
Logo no início da acareação, houve um princípio de discussão entre o deputado Onix Lorenzoni (DEM-RS), um dos autores do pedido para ouvir Youssef e Costa, e o advogado João Mestieri, que defende o ex-diretor da Petrobras.

Após a segunda pergunta feita pelo relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), sobre escutas encontradas na cela de Alberto Youssef na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, Onix Lorenzoni criticou a conduta do doleiro ao se negar a responder ao questionamento.
Ele, então, pediu que os outros deputados parassem de tratar Youssef e Costa de "vossas senhorias", pronome que, segundo Onix, é "respeitoso" para se referir a "bandidos" e criminosos".
Nesse momento, o advogado João Mestieri se levantou e protestou pedindo respeito ao seu cliente. "O senhor não está sendo respeitoso, é o senhor que não está sendo respeitoso", disse o advogado.
Exaltado e com dedo em riste, o deputado pediu para que Mestieri não falasse com ele. "Não fale comigo. O senhor não fale comigo. Fala com o seu cliente. O senhor não é convocado, não fala comigo", gritou Onix.



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