AOS PETISTAS
É tempo de endereçarmos uma mensagem aos petistas. A Liga Anti-Fascista por sua resoluta defesa da democracia e seu combate contra os avanços do fascismo em nossa nação é comumente acusada de ser um braço do PT. Com essa mensagem, procuraremos esclarecer que nossa posição está desvinculada com esse partido político. Ao mesmo tempo, temos uma mensagem objetiva a esses militantes.
A CONJUNTURA HISTÓRICA E O AVANÇO DO PT
O PT é filho de uma época onde coincidiam dois movimentos contraditórios no cenário internacional e no cenário nacional: no nosso país o PT é filho das lutas pela redemocratização e do sindicalismo; enquanto isso, internacionalmente, tínhamos uma crise no mundo do socialismo real que iria culminar no fim da URSS e do bloco socialista.
Esse universo contraditório por muito tempo fez parte daquilo que era o PT. Tratava-se de um partido de esquerda, com facções que transitavam da extrema-esquerda revolucionária até a social democracia. Porém, no começo da década de 90, a social democracia começou a ganhar espaço hegemônico no partido, o que fez com que setores mais amplos da sociedade civil começassem a aceitar o PT como alternativa política real.
Contundentes vitórias em grandes cidades e Estados abriam aos poucos o caminho para uma vitória nacional. Porém, essa vitória poderia nunca ser alcançada caso o PT não assumisse uma postura ainda mais ousada no universo político, o que significaria um compromisso efetivo com setores tradicionais da política nacional, os quais, tradicionalmente, o PT sempre havia combatido. Sob a pressão pessoal de Lula, o partido fechou uma aliança com o PL e conseguiu uma vitória esmagadora sobre o PSDB em 2002.
O PT NO PODER
Apesar de um dos grandes intelectuais da História do país (ex-professor de FHC) Florestan Fernandes - filiado ao PT - ter alertado sobre os perigos das alianças com a direita, as quais poderiam "amarrar os dedos" do partido e impedir maiores avanços sociais, as lideranças do partido aceitaram o desafio de tentar proporcionar uma guinada progressista ao país.
Porém, com os dedos amarrados, o PT e Lula conseguiram, a muito custo, apenas manter uma política conciliadora com os diversos setores dominantes no país e ampliar as políticas sociais que se definiam em boa parte pelo seu carácter distributivo. Ainda assim, para boa parte da população do nosso país, que vivia na pobreza absoluta, a eleição de Lula e do PT significou uma verdadeira revolução.
Os governos do PT - de Lula à Dilma - foram claramente mais eficientes do que qualquer outro governo passado. Sob o ponto de vista dos setores tradicionais e dos grandes interesses econômicos, conseguiram gerar prosperidade e avanços; sob o ponto de vista dos setores sociais mais radicais e dos sindicatos, conseguiram promover alguns avanços, mas sobretudo, impediu sua maior radicalização. Por fim, aos setores de oposição, o PT sempre se colocou de forma aberta a debater alianças e partilhar poderes.
Por que então esses governos do PT nunca tiveram um só dia de paz, quando poderiam ser considerados - corretamente - pela grande imprensa e pelos grandes setores econômicos, como o grande bloco conciliador do país? Alguns analistas políticos apostavam que o natural seria o país passar por um processo de mexicanização da política e o PT se tornar em um novo PRI. Por que isso não ocorreu? Vejamos.
O SIGNIFICADO DO PT, PARA ALÉM DO PT
O PT antes de chegar ao poder já se comprometia, com o grande capital, em manter as estruturas econômicas vigentes. Porém, isso sempre foi uma discussão no "nível dos bacharéis". Para a esmagadora maioria daqueles que votaram em Lula em 2002, era esperado uma agenda muito mais progressista e radical, que chegasse a quebrar a lógica do sistema, se assim fosse necessário.
Após a euforia inicial, seguiu-se certa decepção da população em geral. Essa decepção foi combatida pela euforia das classes dominantes e da imprensa, pelo tom moderado do governo do PT. Por outro lado, o grande carisma de Lula, sempre despertou a simpatia nas massas. Mesmo com o escândalo do mensalão, que revelava que o partido não havia rompido com o velho fisiologismo político no país, ainda assim Lula fez a sua própria sucessão e a sucessão de Dilma.
O significado de um homem pobre e sem elevada escolaridade que se tornou presidente da República e, mais, conseguiu ser muito melhor do que seu antecessor - um grande intelectual e tradicional político, FHC - tem um poder e uma força que o próprio PT não parece conseguir compreender.
Por mais que o PT não tenha feito grandes reformas no sistema político e econômico, ele cumpriu com seu papel histórico, colocando por terra a ideia de que um país melhor só é possível com "os melhores", isto é, nas mãos da tradicional elite econômica e intelectual. Lula mostrou que um homem pobre pode ser melhor do que um homem rico, inclusive na condução de uma política dentro dos limites do sistema.
Para a elite dominante e para os donos do sistema, é chegada a hora de colocar o povo de volta em seu lugar, isto é, de cabeça baixa e submisso. A vitória de Lula e do PT revelou os perigos de uma democracia baseada no princípio de "um homem, um voto". O povo sempre será maioria. Se assim é, então o povo tem que aprender a seguinte lição: "Caso ousem votar em um candidato que não aquele apontado por nós, a elite, esse governo será o pior governo da História desse país." Essa lição deve ser dada, mesmo que para isso seja necessário mudar a própria História.
O LINCHAMENTO DE LULA
Sob a perspectiva histórica, necessariamente, Lula deve ser linchado. Ele será atacado por todas as vias e armas que a alta burguesia tiver em suas mãos. As principais armas são a grande imprensa e o poder Judiciário - o único poder não democrático da democracia brasileira.
Note que Lula não foi um inimigo das classes dominantes. Pouco importa. Seu significado histórico por si só é o maior inimigo de todas as classes dominantes. Fosse ele branco, rico e chamasse FHC, não teríamos qualquer devassa em sua vida particular.
Os dedos amarrados do PT com as suas próprias alianças possivelmente fez com que suas lideranças, incluindo Lula, fizessem uso de fisiologismos, favorecimentos e, no meio desse universo, tenham também colhido - eles mesmos - algum tipo de privilégio. Qualquer ilegalidade que foi cometida por todos esses anos agora será cobrada a um custo enorme.
A grande imprensa já traça uma clara linha divisória da História do Brasil: antes do PT e depois do PT. A impressão é a de que antes do PT o Brasil vivia a era da transparência e da honestidade. O Congresso Nacional era um Convento que despachava com o Planalto, sua Basílica, tudo com a bênção do santíssimo STF na cidade de Brasília - a nossa querida Vaticano.
Os juízes do STF resolveram agora exorcizar as forças malignas daquele sagrado solo. No meio das condenações, o grande alvo estava apenas sendo preparado e agora chegou o momento dele ser execrado: Lula.
Esse é o nome que deve virar sinônimo de corrupção e de uma "era das trevas" onde o povo ousou colocar alguém que a elite não aprovava. No fim, Lula tem que ser preso. A elite sabe que condenar Lula é mais do que condenar um indivíduo, é condenar um símbolo. Condenar Lula é, assim, condenar todos os homens e mulheres pobres de nossa nação.
RESISTÊNCIA OU RETROCESSO
Caso as elites consigam alcançar seus objetivos, passaremos por um período de enormes retrocessos. A volta do PSDB e sua canalha fascista vai continuar o processo de linchamento dos petistas ad infinitum. Além disso, junto com os tucanos, teremos o recrudescimento de todos os piores pesadelos que podemos imaginar e outros tantos que apenas as mentes doentias de um Bolsonaro e um Marco Feliciano podem conjecturar.
Esperamos 500 anos para conseguir ter eleito um presidente um pouco mais progressista. As elites esperam, com o linchamento e condenação de Lula, no mínimo mais 500 anos de governos reacionários. Resistir é, assim, a única saída para evitar esse cenário.
Convocamos os petistas a defenderem seu líder com unhas e dentes, erguerem suas cabeças e não aceitarem em hipótese alguma que o PT e o Lula sejam condenados por todo um sistema corrupto que existia muito antes de seus nascimentos.
É chegada a hora de todos os setores progressistas fazerem o mesmo. Porém, os petistas devem ser a vanguarda desse processo. Nós, da Liga Anti-Fascista, e outros setores progressistas, não podemos vencer uma guerra onde não somos os principais protagonistas. Os inimigos estão claros e são declarados: a grande imprensa e o Poder Judiciário. Sugerimos as seguintes medidas:
1 - Convocação dos sindicatos e dos movimentos sociais historicamente ligados ao PT. Todos devem entrar em contínua vigilância e combate junto aos governos tucanos e de toda a oposição.
2 - Convocação de toda a militância para formar uma enorme corrente defensiva em torno de Lula. Trata-se da defesa de um símbolo e não de uma pessoa. Sua derrota é a vitória do fascismo. A militância deve entrar em estado combativo até as últimas circunstâncias.
3 - Os petistas devem erguer suas bandeiras e ocupar as avenidas e endereçar suas mensagens à grande imprensa e ao Poder Judiciário.
4 - Os petistas devem criar vias alternativas de comunicação e lutar pela democratização dos meios de comunicação. Com a constituição brasileira em suas mãos, devem lembrar os juízes do STF que ninguém está acima de nossa carta maior, a começar por eles.
5 - As lideranças devem conscientizar suas respectivas bases dos reais interesses que estão por trás dessa avalanche de acusações que a imprensa estabelece em conluio com o STF.
Salientamos, por último, que esta Liga Anti-Fascista não é ligada ao PT, mas está interessada na manutenção - nesse momento - da democracia e na derrocada das forças mais reacionárias e que precisam urgentemente ser combatidas.
Por fim, lembramos que, embora os petistas estejam acostumados a uma linguagem combativa apenas dentro dos limites da democracia formal brasileira, o direito por lutar contra a tirania é um direito humano universal que poderá se valer da rebelião, armada ou não.
Caso os corruptos tribunais brasileiros, acostumados a condenar os mais pobres e absolver os mais ricos, não lembrem disso, talvez seja a hora de deixar bem claro que existem aqueles que não se esquecerão jamais desses princípios.
Cordialmente
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