02 de outubro de 2014
Cartunista diz que Brasil vive “período muito tenso”, mas encara avanços dos direitos da população LGBT com otimismo: “Hoje está havendo uma mobilização que não era possível dez anos atrás”
“Com horror, com espanto, com estupor. Com todo tipo de
choque.” Foi assim que a cartunista Laerte definiu a forma como recebeu
as declarações homofóbicas do candidato à Presidência Levy Fidelix
(PRTB), dadas durante debate transmitido pela TV Record no último
domingo. “E com a triste percepção de que essa coisa doentia é o que se
passa na cabeça de muita gente. É uma boa demonstração de por que é
preciso haver limites para esse tipo de expressão, porque ela incita a
violência. Ela constrói a violência e as mortes”, continuou Laerte.
Relatório divulgado em fevereiro pelo Grupo Gay da Bahia
(GGB) aponta que o Brasil registrou 312 assassinatos de gays, lésbicas e
travestis em 2013, o que significa uma morte a cada 28 horas, em média.
O número é 7,7% menor que o de 2012, quando foram registradas 388
mortes violentas. Para Laerte, o problema da homofobia tem a ver com a
nossa formação civil, que não cria regras de convívio social.
“Sempre tem que haver gente massacrada e gente que
massacre. As pessoas não respeitam a existência de situações de
conflitos possíveis, então passa a ser sempre uma guerra de extermínio. O
que acontece com a população LGBT, de um modo geral, é isso.
Historicamente, são pessoas consideradas pervertidas, satânicas,
escória, lixo”, disse Laerte.
Apesar do “período tenso” pelo qual passa o País, Laerte
vê com otimismo a mobilização da sociedade na defesa dos direitos dos
homossexuais e disse acreditar que estamos no caminho para vencer a
homofobia. Para a cartunista, os avanços dos direitos LGBT (lésbicas,
Gays, Bissexuais e Transgêneros) dependem de um verdadeiro “esforço” da
população.
“É
relativamente recente a ascensão dessas populações à condição de
respeitabilidade. A gente vive um período muito tenso ainda e eu acho
que, mais do que tempo, vai demandar um esforço das pessoas, um esforço
de construir democracia. Construir democracia é isso: é construir
respeito em situações de conflito, desarmonia e interesses diversos”,
declarou Laerte.
Para ilustrar seu otimismo, a cartunista citou um caso
recente de discriminação em São Paulo, no qual duas lésbicas foram
repreendidas por um garçom quando se beijavam em um restaurante, com o
argumento de que o beijo estava ofendendo os demais clientes. Com a
ajuda da mãe de uma das garotas, o casal registrou queixa contra o
restaurante por homofobia.
“Dez anos atrás essas meninas sairiam humilhadas,
doloridas, iriam para casa passar remédio nas feridas. Hoje elas chegam
em casa chateadas e humilhadas, sim, mas encontram ajuda e reação em
casa”, afirmou Laerte. “Hoje o que está havendo é uma mobilização que
não era possível dez anos atrás. Eu acho que a gente está vencendo isso.
O que existe hoje de possibilidade de as pessoas reagirem é legal, tem
que ser levado em conta. Isso aqui está mudando.”
Apoio a Luciana Genro
A cartunista comentou as declarações de Levy durante visita da presidenciável Luciana Genro (PSOL) à “Ocupação Laerte”, em exposição no Itaú Cultural, em São Paulo. A candidata e o partido acionaram o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra o discurso de “incitação à violência” de Levy, que pregou na TV o “enfrentamento” à minoria LGBT. “Nós entendemos que o que ele disse é a maior prova da importância de se criminalizar a homofobia, a transfobia”, disse Luciana.
A cartunista comentou as declarações de Levy durante visita da presidenciável Luciana Genro (PSOL) à “Ocupação Laerte”, em exposição no Itaú Cultural, em São Paulo. A candidata e o partido acionaram o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra o discurso de “incitação à violência” de Levy, que pregou na TV o “enfrentamento” à minoria LGBT. “Nós entendemos que o que ele disse é a maior prova da importância de se criminalizar a homofobia, a transfobia”, disse Luciana.
Laerte, que já havia declarado voto na candidata do
PSOL, reafirmou seu apoio. “Eu faço delas as minhas palavras. Isso é
votar: fazer deles as nossas palavras, incorporar o discurso, abraçar o
discurso. Esse é o sentido de votar, não essa besteira de quem vai ter
mais bancada. É considerar o que vai no coração e na cabeça”, disse
Laerte.
Antes, Luciana já havia feito um apelo para que os
eleitores deem preferência ao voto “verdadeiramente útil” no próximo
domingo, primeiro turno da eleição. “Voto útil é o voto nas propostas
que representam as bandeiras que saíram às ruas em junho de 2013 e que
não foram atendidas pelos governos”, afirmou.
Durante a visita, Laerte explicou a Luciana cada parte
da exposição, uma retrospectiva de mais de 40 anos de trabalho. “Dá
vontade de ficar só lendo as tirinhas”, disse a candidata. Ao final do
encontro, uma mensagem de boa sorte da cartunista: “Bom debate amanhã
(hoje), Luciana. Vai com tudo.”
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