SÁBADO, 18 DE OUTUBRO DE 2014
Uma Carta Aberta a Quem Tem Menos de 25 Anos Escrita por
um Tio Preocupado (Não o “Tio” do Jornal Nacional, que é Daqueles Que te
Constrangem nas Festas com um Papinho Preconceituoso, mas o Tio que Usa Tênis,
Calça Jeans Puída e que te Constrange nas Festas Porque Insiste em Conversar
com Seus Amigos Como se Fosse da Turma.)
Li esta semana que Aécio tem tido uma boa votação entre os
jovens de 18 a
25 anos de idade e fiquei espantado. A juventude é a época do pensamento no
coletivo, do idealismo, da generosidade. É a época em que tendemos a pensar
mais no mundo do que no umbigo. É a época em que o sofrimento daquele mendigo
pelo qual passamos na rua dói e sentimos o impulso de erguê-lo, de alimentá-lo,
de agasalhá-lo. É só com o passar dos anos que começamos a tender a um foco
mais individualista: pensamos nas nossas contas bancárias antes de fazermos uma
doação. Nem todos passam por esta transformação (felizmente), mas a tendência
geral é esta.
Assim, como é possível que tantos de nossos jovens já
estejam iniciando a idade adulta com um pensamento tão conservador? O
pensamento de que o “mercado” importa mais do que as pessoas? O pensamento de
que o conteúdo do iPod é mais importante do que o conteúdo da alma (e uso alma
como metáfora)? O pensamento de que poder escolher o tipo de iogurte é… nem sei
como completar esta frase. Que tal… “minimamente relevante”?
E aí fiquei pensando. O que pode ter acontecido pra que
esse conservadorismo aparente tivesse tomado conta da juventude? Seriam os
novos jovens mais egoístas do que os da minha época?
Claro que não. A juventude respira generosidade se tiver
permissão e contexto.
É isso. Faltam permissão e contexto.
Um tiquinho de paciência e já explico.
A falta de “permissão” vem da mídia e da despolitização.
Os jovens abaixo de 25 anos cresceram com uma mídia cujo conservadorismo já resultou
em críticas até do Reporters Without Borders (1) e que insiste em transformar
qualquer denúncia, por menor que seja e por menos provas que tenha, em um
escândalo inquestionável. Às vésperas da eleição de 1989, por exemplo, os
jornais relacionaram o PT ao sequestro de Abílio Diniz, comprometendo a vitória
da esquerda, mas mais recentemente, na última eleição presidencial, podemos
encontrar um exemplo claro no caso Erenice Guerra, próxima de Dilma, que foi
massacrada pela Globo e pelos jornais durante semanas, acusada de todo tipo de
ato de corrupção imaginável. Erenice que depois foi, vejam só, inocentada. O
mesmo ocorreu com o ex-ministro Orlando Silva. E com Luis Gushiken. E, ESTA
SEMANA, com José Luis Dutra, que a Folha acusou numa matéria de ter sido
“denunciado” por Paulo Costa apenas para, no dia seguinte, publicar uma pequena
errata dizendo que haviam errado e que Dutra nada tinha a ver com o caso.
Com isso, a mídia criou uma impressão de corrupção
generalizada – mas só do lado que a interessa, já que sempre ignora qualquer
denúncia contra a direita (cartel do metrô em SP, falta de planejamento da
SABESP, mensalão tucano, compra de votos da reeleição de FHC, máfia dos
sanguessugas, etc.). Aliás, quando noticia algo, é pra aliviar a barra: esta semana,
o Jornal Nacional anunciou que a Procuradoria Geral da República arquivou
denúncias contra Aécio no caso do aeroporto em Cláudio – mas deixou
convenientemente de informar que a PGR disse apenas que não havia indícios de
ilícito em esfera FEDERAL e que, por isso, encaminhou a denúncia pra
Procuradoria Geral do Estado por ver indícios de IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA por
parte do governo de Aécio.(2)
Assim, como a juventude pode se sentir livre para defender
o projeto do governo se este é constantemente rotulado pela mídia brasileira
como “o mais corrupto da história”? Um governo que, vejam só, criou diversos
mecanismos justamente para investigar, coibir e punir a corrupção? (3) Com
isso, só resta a opção de defender a oposição, cujos desmandos são varridos
para debaixo do tapete, embora sejam inúmeros, de vulto infinitamente maior e,
ao contrário do que ocorre com o governo Dilma, JAMAIS investigados
apropriadamente.(4)
Isto tem um nome: despolitização. A mídia atira termos
como “bolivarianismo” e “Foro de São Paulo” na cabeça do público e passa a
vê-lo reproduzi-los sem terem ideia do absurdo que dizem. Como aqueles que
afirmam, sem hesitar, que o filho de Lula se tornou multimilionário e é dono da
Friboi, duas mentiras que, de tanto serem repetidas, se tornaram mantra de
vários eleitores da oposição.
Já o segundo elemento que torna nossa juventude
conservadora é o contexto. Ou melhor: a falta de. Quem tem menos de 25 anos
cresceu num país pós-Lula. E, assim, se acostumaram a um país com problemas infinitamente
menores do que aqueles que eu vi ao crescer. É uma juventude que
compreensivelmente quer melhorias constantes, mas à qual falta a compreensão de
que 500 anos de injustiças não são corrigidos em apenas 12 anos. É uma
juventude que nunca leu nas capas de jornal que a fome estava matando um número
trágico de crianças, que não viu milhares de indivíduos com curso superior
fazendo fila pra um concurso de gari numa época em que o Brasil era o 2o pais
do mundo em DESEMPREGO, que não viu os juros dos bancos atingirem 79% ao ano,
etc, etc, etc. (5)
Infelizmente, estes jovens não se lembram de como o Brasil
era antes da era Lula-Dilma.
Mas eu lembro. Lembro do Plano Cruzado com suas
donas-de-casa fiscais de preço; do confisco da bolsa; dos apagões de FHC e sua
dependência do FMI (6). Lembro de quando FHC obrigou o país a racionar luz (7).
Lembro da falta de oportunidades na educação pública (8). Da falta de
universidades (9) (que poderia ser pior; já que ele cogitou acabar com as
públicas) (10). Lembro da inflação (que tantos dizem que FHC controlou, mas que
na realidade subiu descontroladamente no seu mandato).(11) Lembro da compra de
votos pra reeleição (200 mil/deputado). (12) Lembro dos grampos telefônicos na
era FHC.(13) Lembro do Engavetador-Geral da União, que, ao contrário do que
ocorre hoje, não permitia que as denúncias fossem investigadas.(14) Lembro do
vexame da “festa” dos 500 anos.(15) Lembro do 1,6 BILHÃO que FHC deu ao
Marka/FonteCindam (e lembro do Cacciola).(16) Lembro do filho de FHC e seu
envolvimento com a EXPO 2000.(17) Lembro do massacre no Eldorado dos
Carajás.(18) Lembro da dengue descontrolada.(19) Lembro dos reajustes de 580%
na telefonia.(20) Lembro do PIB ridículo.(21) Lembro dos mais de 2 BILHÕES de
fraude na SUDAM de FHC.(22) Lembro de FHC chamando aposentados de
“vagabundos”.(23) E o povo brasileiro de “caipira“.(24). Lembro de como Aécio,
ao contrário do que afirmou recentemente, votou contra o aumento real do
salário mínimo.(25) Lembro de como Aécio sabotou CPI sobre a má gestão tucana
da Petrobrás em 2001, que resultou no afundamento de uma plataforma.(26) Lembro
de Armínio Fraga, que Aécio anunciou como seu ministro da Fazenda, dizendo que
o salário mínimo está alto demais.(27) Lembro de quando Armínio era presidente
do Banco Central e elevou os juros básicos de 37% para 45%.(28)
Lembro, enfim, muito bem de como era este país até 12 anos
atrás. Esta é a questão: não falo tanto de política porque gosto. Ao contrário:
me dá dor de cabeça, me faz perder leitores e me prejudica profissionalmente.
Eu falo tanto de política porque preciso. Tenho dois
filhos. Não quero pra eles o Brasil no qual cresci. Não quero retrocesso. E é
por esta razão, por saber que tenho tantos leitores jovens, que me sinto na
obrigação de passar a eles um pouco do que vivi e testemunhei. Porque acredito
na generosidade da juventude e acredito que, quando forem lembrados de como
este país era e do que se tornou, votarão com a consciência de que, depois de
500 anos de miséria e fome, os últimos 12 anos viram uma redução de 75% na
pobreza extrema (imaginem isso!)(29), viram o Brasil sair PELA PRIMEIRA VEZ do
mapa da fome da Onu (30) e também viram nosso país ser premiado por três
iniciativas públicas pela mesma ONU (31).
E trazer estas informações para nossos jovens, em vez de apenas
bombardeá-los com factóides e denúncias que sempre parecem surgir magicamente
nas vésperas da eleição, não é ativismo político; é apenas ser responsável como
cidadão.
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