Polícia já identificou suspeitos que têm idade entre 15 e 20 anos.
Jovem esteve no programa Encontro com Fátima e falou sobre preconceito.


A jovem negra Maria das Dores Martins, de 20 anos, esteve na manhã desta sexta-feira (29) no programa Encontro com Fátima Bernardes e falou sobre os comentários preconceituosos que ela e o namorado Leandro, de 18 anos, sofreram no Facebook. No programa ela disse que as fotos já estavam no perfil desde julho e que não entendeu porque só em agosto houve estas manifestações. "Eu não entendo, até porque aquela foto já estava há muito tempo no meu perfil e de repente começaram os comentários. Chorei muito, mas eu recebi bastante apoio do meu namorado e da minha família”, desabafou.
Injúria Racial Muriaé  (Foto: Reprodução/TV Integração)Casal namora há quase dois anos
A Polícia Civil de Muriaé informou nesta quinta-feira (29) ao G1 que já havia identificado alguns dos suspeitos de ofender o casal. Segundo o delegado responsável pelo caso, Eduardo Freitas da Silva, os agressores são de São Paulo e a maioria adolescentes com idade entre 15 e 20 anos. Além disso, alguns dos perfis são falsos, outros são cadastros de pessoas reais e nenhum deles têm relação com a vítima.

A polícia trata o caso como injúria racial. A jovem registrou a ocorrência na última terça-feira (26) na Polícia Militar e relatou aos policiais que tomou conhecimento do fato no dia 17 de agosto. Em seguida o perfil foi desativado. Um inquérito foi instaurado pela Polícia Civil de Muriaé, que a princípio tem 30 dias para ser finalizado, mas o tempo deve ser prorrogado devido à complexidade da ocorrência.

Durante o programa Encontro, a jovem contou que a primeira atitude do casal foi bloquear as fotos e sair do Facebook. Mas para dar prosseguimento às investigações policiais, eles voltaram atrás.
“Logo que isso aconteceu , meu namorado fechou todas as fotos. Eu desativei minha conta, mas agora está ativado porque o delegado pediu. Tem quase mil comentários. Alguns de apoio, mas a maioria racista”, disse à apresentadora.

Maria das Dores também falou em entrevista à Fátima Bernardes que nunca havia passado por uma situação destas antes. "Eu achei que era mentira porque nunca passei por isso, nem nós dois juntos. Esperamos que achem os culpados porque eles não podem ficar impunes. Foi muto triste o que aconteceu. Durante um tempo eu não queria ver ninguém, mas meu namorado me deu bastante apoio e pediu para eu não chorar", lembrou.

“Não somos de brigar, ficamos em paz. Somos companheiros e nada nem ninguém vai mudar isso"
Leandro, namorado de Maria das Dores
Namorado disse que relacionamento não ficou abalado
Leandro conversou com o G1 por telefone nesta quinta-feira (28) e afirmou que, apesar do transtorno, eles estão ainda mais unidos. Durante toda a entrevista a namorada Maria das Dores estava ao lado e disse concordar com tudo o que ele dizia.

Juntos há um ano e oito meses, o casal diz que tomou ciência dos comentários no domingo (17). Leandro contou que a namorada ficou triste e que por diversas vezes a viu chorar. “Eu nunca fui de ligar para o que os outros falam. As palavras foram muito ofensivas, mas o importante é que a gente está bem. Nosso relacionamento não foi afetado por isso, pelo contrário, melhorou ainda mais”, disse.
A imagem foi publicada em modo público (ou seja, aberta para qualquer internauta da rede ver, curtir ou comentar) e entre os comentários estavam frases como: "Onde comprou essa escrava?", "Seu dono?", “Me vende ela”, “Parece que estão na senzala” e "Eu acho que você roubou o branco pra tirar foto". Um dos comentários teve "aprovação" de 24 pessoas.
Leandro confirmou que o casal não conhece essas pessoas que agiram de forma preconceituosa e que não abrem mão da Justiça. “Vamos procurar um advogado e nossos direitos. As pessoas não podem agir dessa forma, magoar e sair impunes”, afirmou ele, com o consentimento da namorada.

Leandro disse ainda que durante os quase dois anos de namoro o casal nunca havia sofrido preconceito. “Não somos de brigar, ficamos em paz. Somos companheiros e nada nem ninguém vai mudar isso”, ressaltou.

Maria das Dores não quis estender o assunto para a reportagem e disse apenas que faz das palavras de Leandro as dela.

Autores não são da mesma cidade
O delegado Eduardo Freitas da Silva, responsável pelo caso, informou que o casal já prestou depoimento e que se mostrou abalado com a situação. Segundo o delegado, a polícia identificou que os autores não são conhecidos pelas vítimas e que não são moradores da cidade e nem do estado de Minas Gerais. “As informações preliminares apontam que os agressores são na maioria de São Paulo. As ofensas partiram de cerca de sete a dez pessoas, aparentemente conhecidas entre si. Já verificamos também que os envolvidos são adolescentes e jovens e que alguns dos perfis eram falsos”, disse.

O delegado acrescentou que devido à localização dos autores a polícia terá um problema burocrático. “Vamos enviar um pedido ao Facebook e solicitar informações para a identificação real dos autores. Após esse processo vamos enviar cartas precatórias, instrumento utilizado pela Justiça quando existem indivíduos em comarcas diferentes. Acredito que vamos precisar do apoio da Polícia Civil de São Paulo no caso. Todo esse procedimento deve acarretar na prorrogação do prazo do inquérito”, salientou.
Caso não haja êxito nas identificações dos envolvidos, o delegado garantiu que será solicitado apoio à Delegacia de Crimes Cibernéticos em Belo Horizonte.
O crime, de acordo com Eduardo da Silva, está sendo tratado como injúria racial e a pena varia de um a três anos e multa.

http://g1.globo.com/mg/zona-da-mata/noticia/2014/08/chorei-muito-diz-jovem-negra-vitima-de-racismo-em-fot

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