• Terça-feira, 24/11/2015,

Em delação, Baiano diz que operou com Bumlai para manter Cerveró na Petrobras

Em um dos depoimentos de sua delação premiada na Lava Jato, o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, afirmou que, na tentativa de manter Nestor Cerveró no cargo de diretor da área Internacional da Petrobras entre 2007 e 2008 , pediu ao pecuarista José Carlos Bumlai que "intercedesse junto à Presidência da República".
Bumlai foi preso nesta terça-feira (24) pela Polícia Federal na Operação Lava Jato por suspeita de fazer tráfico de influência. Ele é amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, supostamente, tinha acesso livre ao Palácio do Planalto durante os oito anos em que o petista comandou o país. O depoimento de Baiano foi tornado pública nesta terça-feira, após a PF ter deflagrado a 21ª fase da operação. 
Na versão de Baiano, Bumlai contou que “falou com o [então] presidente Lula, mas este informou que não poderia interferir no assunto, pois havia realmente prometido a diretoria internacional da Petrobras à bancada mineira do PMDB na Câmara dos Deputados”. Baiano diz ainda que, "seguindo a orientação fornecida por Lula, Bumlai procurou Michel Temer para tratar do assunto”.
Atual vice-presidente da República, à época Temer exercia a presidência do PMDB. Segundo o lobista, Bumlai chegou a fazer uma reunião com Michel Temer e Cerveró para tratar do assunto, mas disse que, na ocasião, Temer afirmou que "não poderia contrariar a bancada mineira do PMDB”. O PMDB nega a reunião com a presença de Bumlai, mas confirma o encontro com Cerveró (leia mais abaixo).
Baiano afirma que conversou também com um advogado (sem citar o nome) amigo do falecido Fernando Diniz, então líder da bancada mineira do PMDB na Câmara dos Deputados. “Que, então, o depoente sugeriu que Nestor Cerveró fosse mantido no cargo, mediante ajuda à bancada mineira do PMDB na Câmara dos Deputados”. Neste momento, Baiano afirma que "o advogado solicitou o pagamento de aproximadamente R$ 1 milhão mensais [pelo apoio]”.
O lobista diz ter comentado com Bumlai sobre o suposto pedido de R$ 1 milhão mensais, e que o empresário “não demonstrou surpresa”. O depoimento ainda explica que Cerveró acabou nomeado para o cargo de diretor da BR distribuidora. Já a diretoria internacional foi assumida por Jorge Zelada, a pedido da bancada mineira, até o ano de 2012.
Cerveró e Zelada foram presos em outras fases da Lava Jato, suspeitos de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras investigado pela operação. Cerveró foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro por 12 anos de prisão. Zelada é réu na Justiça Federal do Paraná. Baiano cumpre prisão domiciliar, benefício obtido após acordo de delação premiada. 
Procurado pelo blog, a assessoria de imprensa da Vice-Presidência da República afirmou que quem responderia pelas indagações seria o PMDB. O partido explicou que, ao vice-presidente, "não constava à época nenhuma informação de transação irregular nem contra o Cerveró, nem contra a Petrobras”. 
Segundo a assessoria da legenda, “após a eleição de 2006, o presidente Lula quis uma relação institucional com o PMDB e fez uma sugestão de participação no governo". “Alguns cargos foram oferecidos, entre eles a diretoria internacional da Petrobras, destinada ao PMDB de Minas, época em que o presidente do PMDB era o falecido deputado Fernando Diniz”. 
Ao blog, o PMDB explicou ainda que "Cerveró se reuniu com o vice-presidente Michel Temer, em São Paulo, sem a presença de Bumlai, pedindo apoio para ficar na Petrobras, mas Temer afirmou que realmente havia uma reivindicação do PMDB de Minas e que não poderia fazer nada em relação a isso". Com isso, houve a substituição de Cerveró por Zelada. 
O Instituto Lula afirmou que não iria se pronunciar sobre as afirmações de Baiano. O juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato na primeira instância, afirmou que “não há nenhuma prova de que o ex-presidente estivesse de fato envolvido nesses ilícitos”. 
Bumlai já contestou declarações de delatores da Lava Jato de que se beneficiou da proximidade com Lula. Nesta terça-feira (24), o advogado Arnaldo Malheiros Filho, que defende o empresário e pecuarista, disse que a prisão do cliente foi uma surpresa porque Bumlai estava em Brasília para atender convocação da CPI do BNDES. A defesa afirmou que ainda estava se inteirando dos fatos que motivaram a prisão.

No despacho do mandado de prisão contra José Carlos Bumlai, o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, afirmou que o empresário teria "se servido, por mais de uma vez e de maneira indevida, do nome e autoridade do ex-presidente [Luiz Inácio Lula da Silva] para obter benefícios”.
Moro afirma ainda que “não há nenhuma prova de que o ex-presidente estivesse de fato envolvido nesses ilícitos, mas o comportamento recorrente do investigado José Carlos Bumlai levanta o natural receio de que o mesmo nome seja de alguma maneira, mas indevidamente, invocado para obstruir ou para interferir na investigação ou na instrução".
Segundo o magistrado, “fatos da espécie teriam o potencial de causar danos não só ao processo, mas também à reputação do ex-presidente, sendo necessária a preventiva para impedir ambos os riscos”. Na opinião do magistrado, a prisão é necessária para "prevenir riscos à investigação”.
No documento de 31 páginas, Moro afirma que há prova do envolvimento de Bumlai no crime de corrupção e que "o destinatário final da vantagem teria sido, segundo os colaboradores, o Partido dos Trabalhadores, com afetação do processo político democrático". "O mundo da política e o do crime não deveriam jamais se misturar”, opina Moro.
Bumlai já contestou declarações de delatores da Lava Jato de que se beneficiou da proximidade com Lula.
Nesta terça-feira (24), o advogado Arnaldo Malheiros Filho, que defende o empresário e pecuarista, disse que a prisão do cliente foi uma surpresa porque Bumlai estava em Brasília para atender convocação da CPI do BNDES. A defesa afirmou que ainda estava se inteirando dos fatos que motivaram a prisão.

Investigadores da Força-Tarefa da Lava Jato afirmaram ao Blog que a Operação Passe Livre, deflagrada nesta terça-feira (24), é resultado, entre outros avanços da apuração, da delação premiada do lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano.
A nova fase, que prendeu o empresário José Carlos Bumlai no hotel Golden Tulip, em Brasília, apura as circunstâncias de contratação de navio sonda pela Petrobras com “concretos indícios de fraude no processo licitatório”. A Polícia Federal cumpre mandado de busca na casa do pecuarista.
Em informações prestadas após aderir ao instituto de delação premiada, Baiano afirmou que foram realizados pagamentos de “comissão” em contratos de navios sondas com a quantia total de US$ 35 milhões. Leia termos de delação de Baiano aqui.
Entre as acusações formalizadas por Baiano está a afirmação de que fez um pagamento de R$ 2 milhões que teria como destinatário uma nora do ex-presidente Lula. Na versão do delator, o pagamento foi feito a pedido de Bumlai, que é amigo de Lula. Após a acusação, Bumlai negou a versão do delator.
Ao prestar as informações sobre o pecuarista, Baiano se comprometeu a tentar "identificar operação bancária" para pagamento a nora de Lula e outras negociações que diz ter participado.
O instituto do ex-presidente afirma que ele jamais autorizou José Carlos Bumlai a utilizar o nome dele. Informou ainda que Lula possui quatro noras, e nenhuma delas recebeu, direta ou indiretamente, qualquer quantia de Fernando Baiano.
Apontado como operador do PMDB, o que o partido nega, Baiano e suas informações se somam nesta fase as versões de outros delatores do esquema na Petrobras, segundo informado ao Blog: a do ex-consultor da Toyo Setal Julio Camargo, a do ex-gerente da Petrobras Eduardo Musa e a do empresário Salim Schahin.


0 comentários:

Postar um comentário

Postagens populares

 
Top